O Crucifixo de São Damião


O Crucifixo de São Damião


1 – Alguns dados históricos sobre o Crucifixo

O Crucifixo de São Damião foi pintado no século XII por um desconhecido artista da Úmbria, região da Itália. A pintura é de estilo românico, sob clara influência oriental: o pedestal sobre o qual estão os pés de Cristo pregados separadamente; e de influência siríaca: a barba de Cristo; a face circundada pelo emoldurado dos cabelos; a presença dos anjos e a cruz com a longa haste segurada na mão, por Cristo, (só visível na pintura original), no alto, encimando a cruz.

Outros dados:

Sem o pedestal, o Crucifixo original mede dois metros e dez centímetros de largura.
A pintura foi feita em tela tosca, colada sobre madeira de nogueira.
Naquele tempo, nas pequenas igrejas, o Santíssimo não era conservado, isto é, a Eucaristia não era guardada mas, consumida no dia. Por isso, supõe-se que o Crucifixo foi pendurado na abside sobre o altar da capela, no centro da Igreja.
Provavelmente o Crucifixo permaneceu na Igreja de São Damião até que as Irmãs Pobres, em 1275, o levaram consigo à nova Basílica de Santa Clara. Guardaram-no no interior do coro monástico por diversos séculos. No ano de 1938, a artista Rosária Alliano restaurou o Crucifixo com grande perícia, protegendo-o inclusive contra qualquer deterioração.
Desde 1958 ele está sobre o altar, ao lado da capela do Santíssimo, na Basílica de Santa Clara, protegido por vidro.

2 – Descrição detalhada da pintura

Descobre-se, à primeira vista, a figura central de Cristo, que domina o quadro pela sua imponente dimensão e pela luz que sua esplêndida e branca figura difunde sobre todas as pessoas que o circundam e que estão todas vivamente voltadas para Ele. Esta luz vivificante que brota do interior de sua Pessoa (Jo 8, 12) fica ainda mais destacada pelas fortes cores, especialmente o vermelho e o preto.
Também impressiona este Cristo ereto sobre a cruz e não pendurado nela, com os olhos abertos, olhando o mundo.
Apresenta ainda uma auréola da glória com a cruz triunfante oriental em vez de uma coroa de espinhos, porque tornou-se vitorioso na paixão e na morte.
Aparecem os sinais de crucificação e as feridas sangrentas mas o sangue redentor se derrama sobre os anjos e santos (sangue das mãos e dos pés) e sobre São João (sangue ao lado direito).
Cristo se apresenta vivo, ressuscitado (Jo 12, 32), de pé sobre o sepulcro vazio e aberto (indicado pela cor preta), visível por trás. Com as mãos estendidas, Cristo está para subir ao céu (Jô 12, 32).
A inscrição acima da cabeça de Cristo, “Jesus Nazarenus Rex Judaerom” Jesus Nazareno Rei dos Judeus, é também própria do Evangelho de João.
Sobre a inscrição, esta a ascensão em forma dinâmica, na figura do Cristo ascendente, com o troféu da cruz gloriosa na mão esquerda (só visível na pintura original) e com a mão direita pela mão do Pai, no céu.
Do alto, a mão direita do Pai acolhe o seu Filho, circundado dos anjos (e santos) na glória celeste.
As cores vermelha e púrpura são símbolos do divino; o verde e o azul, do terrestre. Para “ver” bem o conjunto da pintura, deve-se realmente parar diante do Crucifixo, pois, ordinariamente, olha-se à imagem somente, de longe, como “turistas”.
À direita do corpo de Cristo, aparecem as figuras de Maria e João, intimamente unidas, enquanto Maria indica o discípulo predileto com a mão direita (Jo 19, 26). À esquerda, estão as duas mulheres, Maria Madalena e Maria de Cléofas, primeiras testemunhas da ressurreição (Jo 19, 25).
E, embora, Maria, à direita e Maria Madalena, à esquerda, ergam a mão direita no rosto em sinal de dor, nenhuma das outras pessoas próximas, manifesta expressão de sofrimento profundo mas uma adesão cheia da fé ao Cristo vitorioso, Salvador.
À direita das duas mulheres vê-se o centurião com a mão erguida, olhando para o Crucifixo. Com esse gesto está a dizer: “Verdadeiramente este é o Filho de Deus”.
Sobre os ombros do centurião aparece a cabeça de uma pessoa em miniatura, cuja identidade se discute: poderia ser o filho do centurião, curado por Jesus (Jo 4, 50) ou um representante da multidão ou ainda, o autor desconhecido da pintura.
Aos pés de Maria e do centurião, vê-se o soldado chamado Longino que, pela tradição, com a lança traspassa o lado de Jesus e, o portador da esponja, chamado de Estepatão, segundo a tradição (Jô 19, 29). Ambos estão voltados para o Crucifixo.
Debaixo das mãos de Jesus, à direita e à esquerda, encontram-se dois anjos com as mãos erguidas, em intenso colóquio. Parecem anunciar a ressurreição e a ascensão do Senhor.
As duas pessoas, à extrema direita e esquerda, parecem anjos ou talvez mulheres que acorrem ao sepulcro vazio.
Aos pés de Jesus a pintura original encontra-se muito deteriorada. É provável que seja: São Damião, São Rufino, São Miguel, São João Batista, São Pedro e São Paulo. Acima da cabeça de São Pedro, está a figura do galo (só visível na pintura original) a lembrar a negação de Pedro à Cristo (Jô 13, 38; 18, 15 – 27).
As pessoas aos pés de Jesus têm a cabeça erguida para o alto, expressando a espera do retorno gloriosos do Senhor, no juízo.
Deste Crucifixo descrito em detalhes, Francisco teve uma inspiração “decisiva” para a sua vida, diz Caetano Esser. Passamos a descrvê-la porque e dessa fato que se originou a admiração que hoje temos ao Crucifixo de São Damião.

3 – O Crucifixo fala a Frâncico

O jovem Francisco encontrava-se numa crise espiritual, cheio de duvidas e trevas. “Conduzido pelo Espírito”, entra na igrejinha de São Damião, onde se prostra, súplice, diante do Crucifixo. Tocado de modo extraordinário pela graça divina, encontra-se totalmente transformado. É então que a imagem de Cristo Crucificado lhe fala: “Francisco, vai e repara minha casa que está em ruína”.
Francisco fica cheio de admiração e “quase perde os sentidos diante destas palavras”. Mas logo se dispõe a cumprir esse “mandato” e se entrega todo à obra, reconstruindo a igrejinha. Depois pede a um sacerdote, dando-lhe dinheiro, que providencie óleo e lamparina para que a imagem do Crucifixo não fique privada de luz, mas em destaque naquele santuário.
A parir de então, nunca se esqueceu de cuidar daquela igrejinha e daquela imagem.
Francisco parecia intimamente ferido de amor para o Cristo Crucificado, participando da paixão do Senhor, de quem já trazia os estigmas no coração e mais tarde, em 1224, receberia as chagas do Cristo em seu próprio Corpo.
Segundo Santa Clara, esta visão do Crucifixo foi um êxtase de amor radiante e impulso decisivo para a conversão de Francisco.
Entre os estudiosos ainda existe uma dúvida a ser esclarecida: ao ouvir o Cristo do Crucifixo, Francisco pensa na igrejinha material de São Damião. Mas nada impede de se pensar que se trata do “templo de Cristo no coração de Francisco e nos corações dos homens”.
Enfim, a própria oração de Francisco diante do Crucifixo da São Damião sugere antes a reparação “espiritual” da casa do Senhor, crucificado no coração.
Tanto que ele pede especialmente pelas três virtudes teologais (fé, esperança e amor) para poder cumprir esse “mandato” de Cristo.

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