Senhor Bom Jesus da Cana Verde: O Bom Jesus de Iguape


“Zé romeiro ouve a voz do Bom Jesus,  bom devoto obedece o que Ele diz, sem mudar o coração não se é feliz, nem adianta romaria ao Bom Jesus..”

Ouve-se, em todos  os cantos da cidade de Iguape, os hinos em louvor ao Bom Jesus, durante a novena e também nos dias de festa. Tudo nos lembra conversão, arrependimento e penitencia. O estar em  Iguape, participar das celebrações, procissões  é para todos os fiéis devotos e romeiros um tempo de renovação e  novo vigor na fé, na esperança e no amor. Só quem vai a Iguape e tem um encontro amoroso com o Bom Jesus,  sabe o que isso significa.

Durante muito tempo, desde criança ouvia exclamações tipo: “ Meu Senhor Bom Jesus de Iguape”, ou “aquele esta entre Iguape e Cananéia”.  Expressões que nos remetiam  a um lugar tão distante que parecia do outro lado do mundo. E era ali em São Paulo. Final de julho ouviam-se fogos e logo alguém dizia: “ Olha é pessoal que vai para o Norte, vão para Iguape, a festa do Bom Jesus”. Eram caminhões de Pau-de-arara, ônibus, carros e camionetes etc. Enfim cada um ia como podia o importante era ir a Iguape. Eram dias de viagem tanto para ir como para voltar. Todos retornavam felizes e revigorados.

No ano de 1989, decidi ir ao Santuário do Bom Jesus de Iguape, saímos a noite e chegamos logo ao amanhecer.Fiquei encantado com cidade, apesar de pouco conservada, na época, mas  nos remetia a um tempo, já bem  distante, onde a Fé era o que norteava a vida das comunidades, das famílias e de cada um em particular.

As casas com suas  janelas  enfeitadas com toalhas de crochê ou bordadas,vasos com flores naturais, alguma candeia ou castiçal e no centro a imagem  Dele, O Senhor Bom Jesus.Pelas ruas e nas calçadas encontramos vendedores de Santos de quadros de rosários e fitinhas de medalhas e maços de vela, tudo se vendia, tudo se comprava afinal sempre temos alguém para presentear e dizer: Estive em Iguape e lembrei de você.Tudo era encantamento, as barracas de doces e comidas, os vendedores de panelas, colchas, toalhas, roupas se esbarravam nas calçadas.  Tudo era festa, muita musica e os hinos que tocavam nos Auto-falantes da  Basílica eram ouvidos em todos os cantos da cidade. Os fotógrafos de rua sempre prontos para registrar nossa passagem como romeiros do Bom Jesus.

Porém , quando cheguei na frente da Basílica e da porta da frente avistei o Altar-Mor e    estava Ele,   O SENHOR BOM  JESUS, não pude conter a emoção e as lágrimas, parecia tão luminoso e tão belo que fiquei imaginando como seria a entrada do céu. ELE belamente coberto com um manto vermelho de veludo, adornos dourados  e trazendo na mão a cana verde, era o  “ECCE HOMO”, apresentado por Pilatos a multidão, depois de ser flagelado.Então Esse E O BOM JESUS,  um Rei coroado de espinhos, coberto com um manto de púrpura vermelho e nas mãos um cetro de cana verde, não havia beleza alguma... Era o Homem das dores.

Entrei na  interminável fila,  enquanto dedilhava as contas do meu rosário sentia um descortinar da minha existência, e   me vi sozinho no palco,  eu era o protagonista e o único assistente na plateia.  Parecia que aquele SENHOR DAS DORES me levava a caminhar com Ele e Ele mesmo ia apresentado o espetáculo da minha vida. Ouvia cânticos, preces e no meio de tudo me via em muitos momentos que ficaram marcados e registrados na minha vida e Ele o Homem das Dores ia enxugando minhas lagrimas e curando minhas feridas, Seu olhar me seguia e perseguia, e  em muitos momentos senti  Sua Mão chagada estendida a me resgatar e a  me erguer .Foram momentos únicos e eis-me  diante DELE ,chegou a minha vez, era o Senhor Bom Jesus, o Senhor dos Aflitos, das dores, da cana verde, Aquele que fui encontrar em Iguape.Fiquei mudo e sem reação, silenciei e chorei, deixei aos pés do Bom Jesus, as lagrimas do meu arrependimento, da minha ingratidão e de tantas ofensas que tinha cometido.Se pudesse não sairia de seus pés, assim como Madalena, Pedro, O leproso, o cego, o liberto do espírito imundo. Porem era preciso descer do meu Tabor e continuar o meu caminho.Eis o meu encontro com o Bom Jesus,  Seu olhar continuou  me seguindo, enquanto as cortinas do espetáculo iam se fechando.Foi, sem duvida, o encontro mais  belo de minha vida. Impossível não desejar voltar a Iguape,  Aquele olhar me chama e se Ele me chama é porque me ama.

Um pouco da História 
da Milagrosa Imagem do Bom Jesus.

Ela foi embarcada em um navio Português no ano de 1647 com destino ao Brasil. Próximo de Pernambuco, o navio foi atacado por inimigos e para evitar que a imagem fosse destruída e profanada, o comandante colocou-a em uma caixa de madeira, juntou algumas garrafas de azeite e jogou-a  ao mar.Alguns meses depois, Francisco de Mesquita, morador da  Praia da Juréia, mandou dois índios para a Vila de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém. Estes, ao passarem pela Praia do Una, acharam junto ao Rio Passauna, um vulto desconhecido rolando nas ondas, levaram-no para a praia onde cavaram um buraco e o colocaram em pé com o rosto para o nascente e assim deixaram com o caixão,  a cera do reino e umas botijas de azeite doce, os quais se encontravam afastados do local.

Ao retornar, os índios acharam a imagem no mesmo lugar, mas  virada para o poente e acharam estranho não haver vestígio sequer de que alguém tivesse movido.Logo que chegaram ao sitio, contaram ao administrador, assim a noticia se espalhou e assim foram com os índios ver o achado, Jorge Serrano, sua esposa Anna de Góes, seu filho Jorge Serrano e sua cunhada  Cecília de Góes. Oh, feliz achado! Enrolaram a imagem numa rede e trouxeram ate o sopé do morro da Jureia, local conhecido como Rio Verde onde foram  alcançados  pelos moradores vindos da Vila da Vila Nossa  Senhora da Conceição de Itanhaém, que souberam da noticia e os ajudaram no transporte ate o alto do morro, onde estes prosseguiram ate a Barra do rio, no bairro Barra do Ribeira, onde os moradores da então Vila de Iguape foram buscar a Imagem.Ela foi levada para um riacho, no sopé do morro do espia, onde sobres as pedras, foi banhada para tirar o sal marinho para recuperar a cor original.

Após ser decorada a imagem foi entronizada no altar-mor da antiga Igreja de Nossa Senhora das Neves em um sábado, dia 02 de novembro de 1647, portanto   a 370 anos. Diz a tradição que a pedra que foi colocada a imagem do Bom Jesus, para ser banhada, cresce sempre,  e todos os fieis devotos trazem uma lasca para suas casas e a guardam com devoção , fé e amor.Sua festa acontece todos os anos no dia 06 de agosto, no dia anterior Iguape celebra sua Padroeira, Nossa Senhora das Neves.

“Senhor Bom Jesus  ó Deus de perdão, dos vossos romeiros tende compaixão.”
 Paz e bem.


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