Francisco de Paula Vitor
Bem
Aventurado Apóstolo da Caridade
“A
caridade é paciente, a caridade é bondosa, não é invejosa e nem orgulhosa” (1 Cor
13-4).
La
pelas Minas Gerais do século XIX, tendo em vista as descobertas de ricas
jazidas de ouro, foi crescendo o numero de pessoas atraídas pelo metal
precioso, e com elas o trafico de negros escravizados vindos do Continente Africano.O comercio de
escravos era bastante rendoso e próspero pois as atividades agrícolas e a
mineração exigiam uma grande demanda de mão de obra. Foi nesse cenário
histórico que no dia 12 de abril de 1827, em Campanha-MG, nasceu o filho da
escrava Lourença Maria de Jesus, que na Pia Batismal recebeu o nome de
Francisco de Paula Victor e teve como madrinha a senhora Mariana Barbara
Ferreira.
Conta-se
que o pequeno Francisco não conheceu a figura paterna sendo que a única
referencia que possuía era o sobrenome Victor, e o único documento que lhe
deram foi a certidão de Batismo.
Francisco
foi muito influenciado pela bondade de
sua mãe e pela piedade e generosidade de sua madrinha Mariana, foi Dona Mariana
quem lhe ensinou as primeiras letras e as orações básicas de todo cristão.Tão
logo entrou na adolescência, foi encaminhado por Dona Mariana para aprender o
oficio de Alfaiate e continuar seus estudos.Um episódio marcante envolveu o
dono da Alfaiataria quando este ouviu Francisco dizer que sonhava em ser Padre,
ele e todos os outros aprendizes começaram a caçoar e debochar de Francisco.Seu
Inácio, em tom severo sentenciou: Lembre-se, rapaz! No dia em que você for
Padre, as minhas galinhas criarão dentes...Não se esqueça de quem é escravo, é
escravo e basta!Não tem nenhum direito!
O
que percebemos é que Francisco apesar de todas as ofensas e humilhações jamais
perdeu a ternura, nunca guardou mágoas ou ressentimentos de ninguém e também
nunca desistiu de seus sonhos, o Sacerdócio era o que mais desejava viver.
Ao
saber do episódio, Dona Mariana prometeu ajudá-lo, e disse que falaria com o
Bispo Dom Antonio Ferreira Viçoso na próxima visita que fizesse a Campanha.Dom
Viçoso foi sempre um fiel defensor da Abolição da Escravatura, defendia os
negros e por sua posição abolicionista conquistou muitos inimigos e também
muitos admiradores.
Conforme
o prometido, tão logo Dom Viçoso pisou em Campanha, la estava Dona Mariana com
seu afilhado Francisco na porta da casa Paroquial, a emoção de ambos era
imensa, acaso o senhor Bispo recusaria
um pedido de Dona Mariana? Dom Antonio, ao ouvir o pedido de Dona Mariana,
ficou profundamente emocionado e logo quis ouvir os argumentos do jovem
Francisco. Francisco expos todos os seus sonhos e anseios em se tornar um
Sacerdote, foi tão convincente que o Bispo logo aceitou.Todos foram as lagrimas
e dona Mariana tranquilizou o Senhor Bispo quanto ao enxoval e tudo quanto
fosse necessário para o novo seminarista.
O
dia 05 de Junho de 1849, estando Francisco com 22 anos, foi marcado para
sempre, afinal na manhã daquele mesmo dia, La estava nosso jovem na porta do
Seminário Diocesano de Mariana.Não se pode negar que sua chegada foi marcada
pela rejeição e pela discriminação, seus colegas num primeiro momento não
aceitaram a ideia de estudarem com um escravo, alguns foram mais brandos outros
mais rigorosos,porem, com a intervenção do senhor Reitor, todas as questões
foram resolvidas, pelo menos aparentemente.Francisco se destacava pela sua inteligência,
era atencioso com todos principalmente para com aqueles que mais dificuldades
apresentavam nos estudos e que por coincidência eram aqueles que mais o rejeitaram
na sua entrada no Seminário.Em seu coração não havia espaço para rancores e
mágoas era tudo para todos e estava sempre pronto para executar toda e qualquer
tarefa e tudo fazia com alegria.Dia a dia todos no Seminário ficavam edificados
com os gestos e as atitudes do jovem Francisco.
O
tempo dos estudos chegava ao final, tudo estava pronto para a sua ordenação,
tudo era emoção uma emoção de todos a começar por sua mãe, sua madrinha Dona
Mariana, o próprio Dom Viçoso estava muito ansioso pois em sua Diocese seria
ordenado o primeiro Padre negro do Brasil,o próprio Francisco estava radiante.
Enfim chegara o dia tão esperado, dia 14 de junho de l851, Francisco recebe das
mãos de Dom Viçoso as ordens sacras e todos, ao final da celebração, se achegam
diante do Neo- Sacerdote para beijar-lhe as mãos e pedir-lhe a benção.
Dom
Viçoso anuncia que Padre Victor será o novo Vigario Paroquial em sua cidade
natal, Campanha, todos aplaudem com emoção, tudo é encantamento para o novo
Padre e para a comunidade paroquial, bênçãos nas casas, nos estabelecimentos
comerciais, sítios, animais etc.
No
ano seguinte, no dia 13 de junho de 1852(Dia de Santo Antonio de Padua),Padre
Francisco de Paula Victor assume a Paróquia da cidade de Três Pontas-MG e la
permaneceu por 53 anos.Padre Victor, como ficou conhecido, tornou-se tudo para
todos, conquistou a todos com sua bondade, sua presença era remédio para os
doentes e enfermos, sua alegria contagiava os tristes e abatidos, era amado por
todos...
Foi
zeloso catequista, seus encontros catequéticos eram marcados pelas histórias Bíblicas
e pelas vidas dos santos. Padre Victor prezava pela formação de seus
paroquianos e para eles construiu a
Escola Sagrada Familia, uma escola referencia para todos, sem distinção de classe social, enfim para
ricos e pobres, senhores e escravos etc.Pessoas ilustres passaram pelos bancos
escolares da Sagrada Familia.
No
seu ofício de sacerdote foi incansável, nuca deixou seus paroquianos sem a
Santa Missa, seu tempo era todo destinado a salvar almas, nutria um amor
incondicional pela Virgem Maria e pela Sagrada Eucaristia.Sempre foi pobre, sua
única fonte de renda eram as esmolas e delas fazia uso em favor dos mais
necessitados, sua casa era refúgio dos pobres e desvalidos, nada considerava de
seu, tudo era de todos.
O
dia 23 de setembro de 1905, marcou profundamente a cidade de Três Pontas, o
Pároco Padre Victor, estava com 78 anos,
e foi vitima de um AVC que o levou a óbito, não tinha nada de seu, alem
da roupa do corpo.A notícia deixou a cidade em estado de choque, todos choravam
a morte do pai de todos o Cura de Três Pontas voltava para a casa do PAI.
Seu
corpo permaneceu por três dias sendo velado, pois o numero de pessoas que
chegavam a cada momento, era incontável, pelos três dias, de seu corpo exalou
um suave perfume.O sepultamento foi marcado pela presença de incontáveis
autoridades civis, eclesiásticas, militares, todos queriam dar adeus ao Santo
de Três Pontas.
Hoje
seus restos mortais repousam na Igreja
de Nossa Senhora da Ajuda em Três Pontas, graças incontáveis lhe são
atribuídas, muitos peregrinos ao longo desses 111 anos recorreram a sua
intercessão.
No
dia 14 de novembro de 2015, a Igreja declara Padre Francisco de Paula Victor,
Bem Aventurado, que possamos com seu exemplo e seu amor, seguir Jesus Cristo e
viver o Santo Evangelho.
PAZ
E BEM
Marcio
Antonio Reiser OFS.
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