Nossa Senhora do Desterro
Padroeira dos migrantes
Um véu cintilante de estrelas cobria o céu
azul-escuro da encantadora Belém. “Belém de Judá... de ti sairá o chefe que
governará Israel, meu povo” (Miq. 5, 2).
Os Magos partiram, por outro caminho, conforme o
aviso que tiveram em sonho! Herodes, furioso, persegue o Menino em Belém e
arredores, e determina a execução de todos os meninos de dois anos para baixo.
“É o massacre dos inocentes”. Os primeiros a
derramarem o sangue em nome de Jesus!
José, Maria e o Pequeno Jesus estão a caminho!
Imaginemos o susto que o aviso do anjo lhes causou. Estavam longe de casa, por
certo, o que traziam na bagagem, nada mais era do que lhes permitia a pobreza,
e os bens, que a Providência Divina lhes proporcionou pelas mãos dos Magos.
José transforma o lombo do fiel burrinho num trono
confortável e aquecido!
Ó feliz burrinho! A passos lentos transportavas,
orgulhoso, a Rainha escolhida com o Pequeno Rei em seus braços.
O caminhar era silencioso, Maria pensava nas
palavras do Anjo Gabriel. Lembrava das profecias do velho Simeão no Templo.
“Uma espada de dor transpassará a tua alma”. Tudo era guardado em seu coração!
A dor transformava-se em alegria quando contemplava o rosto sereno do seu
menino, nascido de suas entranhas e que também era o seu Deus!
Passo a passo, o jovem e justo carpinteiro José,
pensava no futuro; pensava na nova vida no Egito e em seu coração refletia
sobre um outro José, o filho de Jacó, que foi para o Egito como escravo,
tornou-se o conselheiro real e salvou a descendência do povo de Israel da
miséria. E também lembrou-se do grande libertador do povo de Israel, Moisés do
Egito!
Uma viagem penosa e perigosa, a escuridão da noite
através de desertos e florestas, animais bravios e salteadores! Os sobressaltos
que padeceu a Sagrada Família, durante o trajeto, dariam subsídios suficientes
para uma comovente novela de aventuras.
São Pedro Crisólogo escreveu, tão belamente, sobre
a necessidade da fuga e justificou assim: “Que Cristo fugisse, foi mistério,
não temor; foi virtude divina, não fraqueza humana; não fugiu por causa da
morte do Autor da Vida, mas por causa da Vida do Mundo. Pois tendo vindo para
morrer, fugiria a morte?...”.
Uma antiga lenda nos diz que, à passagem da
Sagrada Família rumo ao Egito, as palmeiras inclinavam-se, as fontes brotavam e
os corações eram transformados por uma presença desconhecida!
A tradição nos mostra a cidade de Heliópolis,
centro do culto ao Sol, como lugar escolhido pela Sagrada Família para
residirem. Lá já viviam muitos Hebreus, e lá também existia um templo ao Deus
verdadeiro!
Lá permaneceu a Sagrada Família até a morte de
Herodes! Era o quarto ou quinto ano da era Cristã. Mais uma vez a palavra do
Senhor se cumpria! “Eu chamei do Egito o Meu Filho” (Os 11, 1).
O Verbo de Deus encarnado, a Palavra de Deus, ou o
Próprio Evangelho vivo é apresentado aos pagãos. O Egito mais uma vez é lugar
de exílio e testemunha do plano Salvador de Deus!
“A Sagrada Família nos ensina e aconselha a
praticar o apostolado sempre e em todos os lugares, e até em circunstâncias
desfavoráveis da vida, às vezes contra o nosso próprio gosto, somos obrigados a
partir!”.
O homem põe e Deus dispõe.
Herodes persegue e Deus prossegue!
Nossa Senhora do Desterro é a protetora de todos
aqueles que por vontade própria, ou por situações adversas, deixam suas terras
em busca de um mundo melhor.
A nossa capital Florianópolis chamou-se por mais
de dois séculos “Vila do desterro”, pois nasceu em torno da capela construída
em 1673 por Francisco Dias Velho. Na Catedral de Florianópolis encontra-se a
maravilhosa escultura em tília, de tamanho natural, de autoria do escultor
Demetz; trata-se da imagem do desterro da Sagrada Família para o Egito. A obra
é marcada por tanta beleza que é considerada uma das mais belas do mundo.
Que a Virgem do Desterro nos abençoe e nos conduza
para o bem caminho!
Paz e bem!
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