Nosso Senhor dos Passos
“E carregando a sua cruz,
levaram-no para que o crucificassem.” (Jo., 19, 17)
Eis que passo a passo,
respiração ofegante e pernas trêmulas, Nosso Senhor segue adiante levando sua
cruz e como no dizer do beato Pe. Anchieta, “Ele, arrastado, tingiu o caminho
com seu sangue, e ela (Maria) foi regando com suas lágrimas.”
Jesus, logo após a decisão
covarde de Pôncio Pilatos, é mais uma vez escarnecido; seu corpo dilacerado
pela crudelíssima flagelação é exposto ao vento gelado e cortante, causando
tremores de todos os tipos.
Entregue nas mãos de
soldados cruéis, Nosso Senhor em nada foi aliviado de seu sofrimento;
muitíssimo pelo contrário, o manto de púrpura, colocado sobre seus ombros, na
hora da apresentação do “ecce homo”, foi arrancado com tanta força que
abriu-lhe novamente as chagas, causando dores horrorosas.
A pesadíssima cruz lhe é
colocada sobre os ombros descarnados, a dor lhe faz dar alguns passos e cair
por terra. Seu sangue preciosíssimo encharca o caminho pedregoso...
Com muito esforço, consegue
mais uma vez se colocar de pé e com passos trôpegos e silenciosamente segue
adiante.
O peso da cruz comprime a
coroa de espinhos de tal modo que seus olhos ficam mareados de sangue e
lágrimas.
Ao longe ouve um soluço trancado
e familiar, ergue com muito custo a cabeça e seu olhar é cruzado com o olhar
firme, corajoso e terno de sua mãe, a Virgem das Dores.
Um olhar silencioso que
falou mais que mil palavras; um olhar que encheu o coração de Jesus, de
confiança e coragem.
Na segunda queda, encontra
na generosidade e compaixão de Verônica, um gole de água para saciar a sede e o
conforto de uma toalha macia par lhe enxugar o resto desfigurado.
Ergue-se novamente o Senhor
e, com maior esforço, segue adiante, o peso dos nossos pecados parece insuportável...
Desistir? Jamais!
Já chegando ao limite de
suas forças humanas, Nosso Senhor cai pela 3º vez, parece o fim!
Pelo caminho um certo
Cireneu que vinha do trabalho é obrigado pelos soldados a ajudar o Senhor a
levar sua cruz.
Cireneu, ao erguer o
madeiro, cruza o olhar com o Senhor e é imediatamente tocado pela Graça, os
olhos inchados e desfigurados de Jesus deixavam transparecer o brilho da
Eternidade.
O Senhor lhe diz que o seu
gesto seria lembrado por todos até o fim dos tempos.
Chegando ao Calvário sente a
dor da solidão, do abandono, seus braços e pernas dão sinais visíveis de um
cansaço sem fim!
Ei-lo sobre o lenho! O leito
do Senhor são duas toras em cruz. Das chagas abertas das mãos e pés jorra o
sangue preciosíssimo do Salvador, e por três horas, toda a humanidade desde
Adão e Eva até os habitantes dos últimos tempos foram justificados diante do
trono de Deus.
- Tenho sede! – De almas
fiéis. Todos os seus, com exceção de João Evangelista, traíram seu Mestre.
- Mulher, eis aí o teu
filho...
- Filho, eis aí tua mãe!
- Pai, perdoai-os que eles
não sabem o que fazem.
- Tudo está consumado.
- Em tuas mãos entrego meu
Espírito...
O véu do templo é rasgado
quando o Senhor entrega ao Pai o seu Espírito. Fomos justificados, a cruz do
Senhor foi a chave que abriu a porta do Céu, e nos devolveu a dignidade de
filhos adotivos do Senhor.
Senhor Jesus, queremos
carregar nossas cruzes, sempre ao teu lado e amparados e consolados por Vossa e
Nossa Mãe, a Senhora das Dores!
Amém!
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